Entrevista Amorosa



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Certa vez conheci uma garota, e me assustei com a quantidade de perguntas que ela me fez. Lógico que perguntar demais até denota um pouco de interesse, mas algumas perguntas, acredito que foram desnecessárias. 

Tem gente que acha que primeira conversa é entrevista. Existe uma diferença entre entrevistar e conhecer. A entrevista é seca. Parece mais uma audiência pro réu se explicar. Uma avaliação para prova. Não existe aquele toma lá-da-cá. Parecia que eu estava prestando esclarecimentos do crime de ser eu. Engraçado!
Pra conhecer alguém não é assim. Observamos o modo como a pessoa chega, seus passos, como olha, como sorri, como fala, notamos seu cheiro no ar quando se apresenta, o sorriso da surpresa. O encanto quando te vê pela primeira vez. Stalkeamos suas redes sociais, e prestamos atenção como reage, as coisas humanas e engraçadas que posta. É diferente. 

Quando conhecemos alguém não é algo formal. É como explorar um ambiente novo. É como montar um quebra cabeça, procuramos as peças, juntamos pedacinho por pedacinho. Por vezes nos reconhecemos na pessoa, sentimos seus sentimentos, nos identificamos, nos inteiramos nela e nos seus gostos. Anotamos tudo no caderno do coração.

Quando entrevistamos alguém, depois de um tempo, esquecemos tudo que a pessoa nos disse.
Quando conhecemos alguém, nunca esquecemos.
Conhecer alguém é aprender. O que aprendemos, guardamos.

Entrevista é interesse.
O que essa pessoa pode me dar?
No que essa pessoa pode ser útil?
Os relacionamentos de hoje acabam porque buscamos alguém que possa ter algo para dar.

O amor é a inutilidade. O Amor é quando a pessoa já não pode nos oferecer mais nada e mesmo assim, não podemos viver sem ela. É o que fica depois de anos de relacionamento. É o que permanece dentro do peito no primeiro encontro, mesmo sabendo que a pessoa não tem um carro pra te levar nos rolês. 
É o sentimento pelo que a pessoa é, e não pelas coisas que pode oferecer. 

Ela começou dizendo que gostava do meu nome, e sobrenome, Veríssimo. "Nome de escritor", acho que recebi no sangue um pouco dessa influencia. Mas continuando nas perguntas, "Onde trabalha?", "O que faz?", "Qual sua profissão?", "é formado?", essas foram apenas as perguntas referentes a área profissional. 

- Que coisa chata, sério.

Acho que ela pensou: "Como ficaria meu nome se casasse com esse jovem?" Será que meu sobrenome ficaria bonito? Tem gente que pensa nisso. Letícia Veríssimo, Jéssica Veríssimo, Isabella Veríssimo...

É, fica legal. Mas um sobrenome não é nada sem a história por detrás dele.

Como disse, é uma entrevista. "o que pretende fazer do futuro?". Mora com os pais? Porque trabalha tão longe? Faz tempo que está nessa empresa?"

Oh my God! -suspirei.
A conversa ficou tão monótona. Desanimei.
Fiquei pensando quando ia chegar a parte dos Hobbies. Qual seu filme favorito? Ou sua comida favorita? 
Queria saber as coisas engraçadas da vida. Queria saber seus gostos musicais, quais as coisas que a faziam rir, o que a deixava triste, para nunca errar com ela. E a moça querendo saber quantos anos eu tinha de empresa.

De verdade não quero uma pessoa assim.

O estopim da conversa chegou quando ela perguntou se eu tinha carro, e porque não ia de carro para o trabalho. Ainda chegou a perguntar se eu fosse comprar um carro, qual carro seria.

Parei, respirei fundo, e não respondi.
Disse a ela que tinha que sair rapidinho, que depois continuávamos a conversa.

Não vamos continuar, - eu pensei.

Quando for conhecer alguém, pergunte sem entrevistar.
Seja natural. Seja simpática. Brinque. Tenha paciência. Dê um passo de cada vez. Não julgue sem conhecer a história da pessoa.
Nunca sabemos o porque as pessoas estão onde estão por vontade própria ou pelas oportunidades que recebeu na vida.
Somos sobreviventes. Existem pessoas por aí maravilhosas. Serão ótimas esposas ou maridos, mas não conseguiram se formar, seus pais adoeceram e tiveram que largar tudo pra cuidar deles. Ficaram desempregadas e estão tentando se encaixar, então a grana vai ser curta. Não vai dar pra sair sempre. Existem alguns que não conquistaram tudo que gostariam. Mas vão chegar lá. Acredite! Não descarte o amor porque você julga que ele não está pronto.

Tem gente que começa no relacionamento pronto. Já tem tudo. Parabéns! Mas isso não é critério pra saber se vai dar certo ou não. 
Tem gente que vai ficar pronto no meio da estrada enquanto caminha ao lado de alguém parceira.

Se ter tudo fosse garantia de dar certo, não víamos tantos famosos ricos se divorciando por nada e com brigas na justiça por causa de bens. Não desejo isso para mim nem para ninguém.

Eu, de verdade, quero um amor para deixar bilhetes carinhosos na geladeira falando de nós.
Quero um amor pra passear, nem que seja nas ruas do bairro de mãos dadas, mesmo quando não dê para ir ao shopping. Quero um amor que não ligue se a gente ainda não tem carro, ou casa.
Quero um amor pra que quando eu envelheça, me lembre que construímos tudo com esforço do nosso trabalho, do nosso companheirismo e da nossa fé em Deus.

Quero um amor que valorize o modo como a respeito, como sou carinhoso, atencioso, como procuro fazer seus gostos só pra vê-la sorrir e não um amor pra saber o que tenho no bolso ou quanto. 

Amores que querem me escolher como um produto numa prateleira de mercado, não quero.
Não sou uma utilidade.
Não estou a venda.
Não serei escolhido pelo que posso dar. Mas por quem sou.

Andy Veríssimo Blogueiro

Desde pequeno, sempre escrevi poesias, apaixonado pela escrita, decidi colocar alguns desses retalhos num blog.

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