Quem é você sem o seu instrumento #5




Um homem chega na igreja. Com a mão direita, dá uma leve ajustada em seu terno. Puxa a gravata. "Agora está bom", pensa enquanto caminha até o primeiro banco. Senta-se. Acomoda sua bolsa no banco ao lado. O casal de pastores aparecem e o cumprimentam. Os irmãos que chegando vão, tomam seus lugares e apenas assistem ao diálogo entre os três. E a conversa flui enquanto os músicos dão os últimos ajustes no som antes do "paz seja convosco". Começou então o culto: oração, palavra curta, louvor. Após o rito inicial do culto nosso de cada domingo, o pastor anuncia que a palavra será dirigida pelo pregador convidado. Ele pede uma salva de palmas (em nome de Jesus) para o preletor da noite. Com seus sapatos reluzentes, seus pés caminham rumo ao altar. Passos bem contados. De cabeça bem erguida, um sorriso confiante por entre o bigode, o peito se estufa em cada degrau subido. As mãos, então, envolvem por completo o microfone.

O "boa noite, povo de Deus" soa com uma pausa equivalente ao tom de intelectualidade de um advogado perante um réu desprovido de conhecimento da causa. A Bíblia é lida e o discurso é iniciado após uma oração repleta de palavras do setor luxuoso do dicionário. Entre cada momento de empolgação do pregador, a platéia permanece em silêncio. "Talvez eles estejam surpresos com tamanha revelação, por isso não se manifestam", pensa o dirigente da palavra dessa noite. E, na mesma quietação que se iniciou o discurso, ele se encerra, sendo quebrado pelo pedido de aplausos do pastor, que - novamente - tenta agitar o público. O convidado permanece em lugar de honra até o término do culto. Ao chegar ao fim, o homem, cabisbaixo, desce do culto como quem acabara de perder a luta da sua vida. Uma senhora percebe o descontentamento, e o vai cumprimentar.

- "Senhor, senhor! Deus te abençoe por ter vindo", diz a senhora.
O homem sorri de canto de boca, "e a palavra, como foi?"
- "Foi boa. Palavras bem colocadas. Eloquência e voz perfeita. Excelente postura! O Senhor deve ter estudado muito, posso concluir..."
- "Ah, sim! Fiz uma graduação em teologia na escola..."
- "Mas teria sido uma bênção se o senhor tivesse subido para pregar da mesma maneira que desceu".

O homem fica apreensivo. Perplexo. Sem saber o que pensar. Apenas confrontado.

Ouvi essa história por vezes. Meu pastor a contava com um certo ímpeto... Mas eu nunca fui pregador? Como poderia me encaixar nesse conto? A verdade é que o trecho desse homem é conveniente a todos nós. Nessa última postagem da série, quero fazer das palavras dessa senhora uma lição que deve ser aplicada em todas as áreas de nossa vida: não importa onde seja, entre com humildade. De cabeça baixa mesmo. Porque quem deve levantar o nosso queixo é Deus, e não nosso conhecimento ou vontade. 

Músicos, levitas, ministros, ou seja lá como se denominam, vamos subir mais de cabeça abaixada. E permanecer assim, o que é melhor ainda. Pois sem o nosso instrumento, somos tão instrumentos quanto a senhora que limpa os banheiros ou o irmão que preenche um banco. E com um instrumento a nossa posição não muda.

Se for pra falar de Deus (com voz ou melodias), que seja Deus a levantar a tua boca e mãos e te usar. Abaixe o microfone e aumente o espírito.

Bem, isso é tudo. Espero que Deus tenha falado com vocês durante essa série.
Fiquem com Deus e até mais, yo!

Raniery Seles Blogueiro

O Ranny é um garoto que vive num mundo de aventuras, onde há rios de Toddynho e muitos heróis e magias. Quando está no mundo real, ele é Diretor de Arte, Ilustrador (que desenha uma webcomics, chamada Herostoria), gamer (e sonha em trabalhar com GameDev.) e treinador Pokémon nas horas vagas. Quando ele não está envolvido com nada disso, pode ter certeza de que ele está dormindo.

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